sábado, 23 de outubro de 2010

e Acontece

    
Sobre mim:
Não sei os caminhos, odeio mapas. Não gosto que me apontem o dedo e a consciência ou que me forçem os pézinhos a andar, seja para onde for. Tenho sarcasmo, mas não me serve de muito. Colecciono por vezes coisas inúteis, como pó nos rancores e fotografias de dentro para dentro. Chateio-me facilmente, julgo rápido. Mudo de opinião frequentemente; aprendo muito. Consigo ser triste tentando ser palhaça e agressiva com um metro e meio de altura. Tenho mil defeitos e nem por isso sou má pessoa.

Nunca tive tanto esta necessidade - necessidade embora também desejo -, de fustigar o ar com a minha verdade, com os meus defeitos e os defeitos dos outros, todos a fim do perdão mais completo que o meu eu deixar. De arrancar dentes a quem não fale de jeito, a quem diz que faz e não acontece nada, de arrancar peles que não têm nada para lá das peles. Nada de bom, que limpe o estado de alma permanente em que este mundo humanóide se sentou. 

Canso-me frequentemente dos amigos de café, de café, de chá, não bebo. Irrita-me não me deixarem pôr açucar em tudo, apregoarem o mal de viver bem e não darem exemplo -dizerem que fazem e nada feito, tudo comprado. Sou de quando em vez nervosa com os nervos e calada para o mundo, como só ele ensina a ser. Perco a vontade, vou-me abaixo da mesa e das canelas. Como quando estou doente, que gosto de mimos e cama, fico na cave enquanto rezo 'não há mais abaixo, não se cai'. Existe, acima de tudo. o dia em que venho ao de cima, que tenho massa no corpo e consigo bóiar, mesmo viva. Digo que faço e faço mesmo, qual mulher honrada que sou. E, digo mesmo, chego mesmo a Acontecer.