terça-feira, 12 de junho de 2012

a Deus


O que é isto? O que é isto de me sentir no algodão do céu, sem capa nem véu virados para o mundo? Esta paz de fim de tarde, no mais bonito dos meus sonhos? Imagens a correrem na minha cabeça de uma vida feliz. Um amor - perfeito com um bilhetinho de mim para mim. O melhor está para vir. O melhor pode vir. Agora, sim.

Eu quero e exigo-me ser feliz. Acredito no Bem supremo possível, de todo o Universo. Sou luz devolvida. Tu queres-me tão bem e julgas tão pouco. Eu sou o que sou. Posso ser o que sou. Agora, sim.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Ventos


Isto precisa de sair. É uma coisa tão difícil de ser explicada, tão comigo nascida - ou pelo menos, adoptada.É um vento que às vezes empurra para a frente e me leva a ser gente, da crescida e admirável; outras, encosta-se na nuca e não me deixa dar passo possível. Torna-me inútil, estupidificada, sem sentido no corpo e nas coisas que ele faz. Juro, há dias que ele se esconde dentro da minha boca e corrói peça a peça de mim. Não mata, mas mói. E quando mói -ah, isso, quando ele me mói - dá-me urticária nos dedos que adoram dançar, dores de cabeça de tanta merda lá andar, puxões nos cabelos, verborreia constante, varizes e derrames de uma vida feliz que vejo lá ao longe. E ele ri-se.

Não sei como querem que goste deste vento, desta coisa que não é vento mas talvez não tenha melhor palavra que o defina. Ou talvez seja o meu talento pouco, ou nunca o tenha sido, ou isto ou aquilo. É ele na nuca. Sou eu, maltratada à vista de todos por algo que não se vê, que às vezes até se suga para dentro de mim pelos buracos todos que tenho e se desmaia, feliz, nos meus pés parados, nos meus sonhos de cobras e lagartos. Ele ri-se tanto.

É só quando o odeio. É quando quase o odeio - ah, quando o odeio é tão à séria - que ele sai, rasteirinho, limpa-me as lágrimas, penteia-me o cabelo e sussurra-me palavras de amor. Em jeito de brisa, arrefece-me a raiva, abraça-me as costas e empurra-me com carinho de mãe para a frente. O céu é o limite.  E eu rio-me e ando, como gente crescida e admirável, como se não fosse nada. Como se esta coisa, que precisa tanto de sair de mim, fosse simplesmente eu.

terça-feira, 5 de junho de 2012

Medo




Mas afinal, a tua alma é feita de quê? Não é por nada, é que já estou cansada de andar aqui às voltas com os pés pregados no chão. Que já te decidias ou te matavas de uma vez por todas as que me fazes a cabeça em papa Cerelac. Não sabes se sabes, não sabes se queres, não sabes que és uma sombra que aprendeu a amar a sua sombra. Palminhas para ti, no escuro ninguém te vê, mas esqueceste que ainda existes. E fodes-me a cabeça até ao último suspiro, antes de adormecer.

É complicado de entender, é o que dizem. É uma coisa intrincada, labiríntica, que obriga a pensar e a tentar entender o que ela quer. E é tão simples e somos só nós a vê-lo. E agora até aceito que sejam os meus olhos a distorcerem a brincadeira da nossa vida, mas tenho quase a certeza que não encontro outras palavras, outros caminhos. A culpa é tua. Não sabes se queres, se sabes, se és. De que é feita a tua alma, afinal?

De medo. E o medo não é nada.