Acho que não preciso de te dizer grande coisa para que tu saibas o que eu quero dizer. Levaste os risos, os copos de partir, os livros de rasgar, a tua roupa pela minha janela. Todas as certezas de ser completa não passaram das ilusões que são, mas também as levaste. Tinhas um argumento para provar, nunca o cheguei a entender- demasiado terror que me levasses também, sem o mecanismo de inverter a ordem natural dos lábios - agradeço-te todos os dias.
Estúpida fui eu, nunca quem me viu chorar por me levarem os risos todos. Pelos arrepios com o que as tuas mãos me diziam no fundo da coluna. Pelos tremores de boca e de sexo quando me juravas que eu não tinha a noção do quanto me pertencias, do menino perdido que eras e no reflexo que eras de mim. Estúpida, eu. Pelo bater do coração na garganta quando, por momentos, tu querias, podias e mandavas. Pelo estúpido do fogo de artifício a mostrar alguma espécie de piedade pelo nosso momento fraco e piegas de amor. Pelas estrelas e pela nossa primeira discussão à séria. Por acreditar que eram mesmo lágrimas que corriam pelos teus olhos e que o teu talento não pendia para o teatro. Por relacionar as tuas bebedeiras com a tua sinceridade e saber que nos casávamos em Junho. Estúpida. Pela entrega quase total daquilo que chamas de corpo e que ia tão para além disso, pela força do teu braço tronco fogo queimei-me. Ninguém teve culpa, nem eu. Fui só estúpida, nada que não se cure.