- Estou forte e saudável, doutor.
- Bem vejo.
- Estou contente. Olhe para mim.
- Hm hm. Tens os dentes todos, bem vejo.
- E mudei, cresci. Não perdi nada que desse por perdido.
- A sério? Nada?
- Nada, sim. O apêndice, eu sei para onde foi. Os teus restos nas minhas entranhas, sei que se foram. Os amores das bodas de prata, os amigos de ouro, as dores de ser sensível sei que se foram. Para onde foram. A sabedoria anterior, a febre interior, a musa que me fez quem era e nunca soube se era arte ou dor, foram. Essas, não sei para onde. Não deixaram bilhete, eu não deixei saudades. Foda-se.
- Nada, sim. O apêndice, eu sei para onde foi. Os teus restos nas minhas entranhas, sei que se foram. Os amores das bodas de prata, os amigos de ouro, as dores de ser sensível sei que se foram. Para onde foram. A sabedoria anterior, a febre interior, a musa que me fez quem era e nunca soube se era arte ou dor, foram. Essas, não sei para onde. Não deixaram bilhete, eu não deixei saudades. Foda-se.
Para onde me foi a alma? Diz-me, preciso tanto dela. Para poder chorar, para poder falar, para poder sentir que sou a que me sonho.Que sinto o que falo e que o que falo ainda tem valor. A minha língua já não lê nas linhas, desaprendeu a fazer-se adulta do que retinha nelas; os meus pés já não são crianças. E eu e as minhas birras Não-quero-isto-que-isto-faz-comichão: Tudo se fartou, foi com o apêndice e os teus restos. A alma. A alma, a palavra sem desenho justo. Ao quanto me faz mais falta.
- Nada? E a alma?
- Não deixou bilhete, Eu não deixei saudades.
- Hm.
- Foda-se.
- Hm.
- Foda-se.