domingo, 20 de fevereiro de 2011

Errare

- Estou forte e saudável, doutor.
- Bem vejo.
- Estou contente. Olhe para mim.
- Hm hm. Tens os dentes todos, bem vejo.
- E mudei, cresci. Não perdi nada que desse por perdido.
- A sério? Nada?
- Nada, sim. O apêndice, eu sei para onde foi. Os teus restos nas minhas entranhas, sei que se foram. Os amores das bodas de prata, os amigos de ouro,  as dores de ser sensível sei que se foram. Para onde foram. A sabedoria anterior, a febre interior, a musa que me fez quem era e nunca soube se era arte ou dor, foram. Essas, não sei para onde. Não deixaram bilhete, eu não deixei saudades. Foda-se.

Para onde me foi a alma? Diz-me, preciso tanto dela. Para poder chorar, para poder falar, para poder sentir que sou a que me sonho.Que sinto o que falo e que o que falo ainda tem valor. A minha língua já não lê nas linhas, desaprendeu a fazer-se adulta do que retinha nelas; os meus pés já não são crianças. E eu e as minhas birras Não-quero-isto-que-isto-faz-comichão: Tudo se fartou, foi com o apêndice e os teus restos.  A alma. A alma, a palavra sem desenho justo. Ao quanto me faz mais falta.

- Nada? E a alma?
- Não deixou bilhete, Eu não deixei saudades.
- Hm.
- Foda-se.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Não há que saber

Não me falem em lógica. A lógica é sobrevalorizada, desde que nós e a lógica somos lógica. Tem ares de superior e vem nunca à hora marcada, entrega-se a quem tenha dois dedos de boa retórica. É uma menina rica pobre de espírito, (pelos menos que admitisse que o corpo dela não existe quando ao pé de tudo o resto). Não há muito que saber, ela não entende - mesmo, porque ela inteligente e nada mais.

Tenho dúvidas, que existem viagens e coisas que tais que dão sentido ao sono da noite e aos sonhos da manhã limpa e já gasta. A dúvida de chance perdida ganha ou entravada  algures num purgatório de oportunidades, haverá um novo dia, uma nova cama, uma nova pele sem escamar ou mudar os lençóis. É que não sei grande coisa da vida, mas não me importo de perder a lógica. Não deixa saudades. É uma namorada que me tira a identidade, que não me deixa ir ao fundo de mim do dia com força que força, que só cospe berbigotos intelectuais e se alimenta da minha personalidade coisa ansiedade.

Não há muito que saber e ela não entende. E eu não sou  de contar, aprendi a não gostar assim assim, de coisas favas contadas. Sei ouvir e nem todos os dias. Mas o que fica fica e não tem lógica, tem mais que corpo. A lógica há-de vir, mas nunca à hora marcada.