terça-feira, 16 de novembro de 2010

onde moram as ideias

Dou por mim às voltas e revoltas, à procura de uma ideia original. Não encontro a porta, não sei o código de entrada, perdi há muito o dom de escrever segu(i)ndo o órgão-Mestre. Não te sei escrever, quando és real. Precisava da dor, da dor de não saber, não saber onde ver, onde procurar. Precisava que não existisses, se fosse urgente. Agora ter-te comigo acabou com a minha carreira de drama queen, tirou-me de palco e, pior que tudo, roubou-me o texto. Não tenho ideias. Não sei que porta.


Quanto mais se procura, mais calos se tem; o que se encontra ainda não sei. Eu procuro ideias e elas escondem-se-me, como ultimato de seres quem sonho. Mas enquanto desespero pela falta de pedras a indicar-me o caminho, tu encontras sempre maneira de me compensares, ensinando-me a apreciar a paisagem. Então, eu sonho, vivo. Amo. As ideias não são tudo.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

uma letra que se Lê

Escrever para mortos é, muitas vezes, um exercício anestésico e terapêutico. Dá força ao que nos fraqueja e relembra a natureza do que calcamos. Dá luz à temática dos outros e não à nossa, o que sempre distrai e alivia. E até oferece respostas sonhadas e futuros inóspitos, porque também os que foram odiaram e mentiram e seriam mortos mais cedo ou mais tarde, dentro de nós. Pelo que dizem, a questão nunca é nossa, é do tempo. As respostas, também.

Quem acredita em vidas passadas, tem que as ver muito mal passadas, para nos assombrarem pelas viagens fora. Eu vejo-as. Mas chego à conclusão que assim sangrentas e elásticas é que sabem melhor, que o pior vem depois. Do depois. Depois de morrer levo-te comigo e depois de te enterrar, já me esqueci de quem sou.




Escrever para quem já cá não está ilude quem não é livre e liberta os papões para outros sonhos. Dá-nos a compensação de não nos lembrarmos que nos esquecemos do caminho, de quais os sapatos, gavetas ou calos. Cometi o estúpido erro de dar mais valor aos meus vivos e pago por isso, convivo com a ansiedade de me saber corpo aparte destas unhas ou cabelos, desta casa.  Pior: não me reconheço como a que era, porquê?. Noto, apago o que fui ou que senti por quem, quando?. Perco a força, como?. Faço velórios e enterros a toda a hora e nem por isso me recordo para onde ir. O Quê?

Não faz sentido.