Faz três dias mais algum tempo que não me falas. Que te esqueceste. Não é bem de mim, esqueceste-te simplesmente. E eu ia adorar dizer-te que preciso de ti como de trigo para a vida, como batom para o cieiro e de luz para as molduras. Ia adorar pegar em ti sem pudor possível e dizer-te que eu sou faminta de afectos, que nunca quis estar só e que se estou só, é porque já não sei estar de outra maneira. Iria, com certeza, dizer-te para te chegares a mim, estenderes os braços em frente e eu com a minha mão a circunvalar o braço esquerdo, o direito, Deixa-me entrar, Dás-me um abraço?, morro feliz.
Não te julgo, minha irmã. Eu esqueço-me tanta vez. Não é de ti, esqueço-me. Não sei bem de quê. Provavelmente, de ligar a dizer que gostei de estar contigo, que me deste mais uns centímetros sem os saltos altos precisos. Provavelmente, de rir mais contigo, de ser mais criança no que é preciso. De ser mais crescida quando precisas de um adulto para te endireitar o caminho. De ser a luz que dorme no canto da tua pálpebra esquerda e que te faz sorrir, quando dormes. Esqueço-me, não faço por mal.
Admiro-me ainda que haja tanto rancor, entre nós. É que eu já nos tinha perdoado e não entendo a dor renascida que o músculo sente, por mais que digam que ele não dói. Uma porra, que dói e tira a vida. Quando tento dizer-te que os meus pés estão cansados, enrugados sem causa, cheios de desvios da menina que eu era para ser, a língua prende-se, gaguejo, praguejo e nunca mais acabo uma frase como deve ser. Que estranho sermos de tão perto e termos tanta areia a separar-nos, digo-me. Adormeço.
Depois, em breves segundos, lembro-me, claro como água: esquecemo-nos de alimentar o que nos fazia felizes, únicas, inseparáveis. Veio o mundo e soprou. Nós, palha, cada uma para seu lado- Nunca mais confiar em quem nos olha nos olhos e nos diz que nos Ama. Vou estar aqui sempre, És a pessoa mais importante da minha vida.
- Já não me apetece brincar mais contigo.
- Porquê?
- Porque sim.
Os teus abraços em vapor e eu, estatelada, de queixo no chão.
Os teus abraços em vapor e eu, estatelada, de queixo no chão.